segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Às avessas

















Em teu abraço não houve sofreguidão
Nem calma,
Como em Araguaína ou no Bico do Papagaio,
Após tanta poeira e viagem,
Tampouco ardor em teu beijo
Ou alívio
Como na praia de Tucunaré em Marabá,
Após tanto desejo e voragem.

Em teu olhar não houve labor
Nem satisfação,
Como às margens do Araguaia,
Ou na Gamaleira lendo o romance da liberdade
Para roceiros e o povo pobre,
Ou em Xambioá ao lado de índios e posseiros,
Tampouco desespero em tua mão
Mole no meu ombro
Ou a dilaceração,
Na fronte conturbada de emoção,
Ao ver de longe a fumaça negra que se levantava
Dos corpos de Maria Lúcia e tantos outros,
Lá em Andorinhas.

Em ti, houve sincera indiferença,
Em mim, muitos cadáveres
Que enterravas sem lamento e palavra,
Passado sangrento de fugas e torturas
Na tua muda catatonia.

Naquele momento, sem magia ou estupor,
Em que nosso ideário desfeito
Recusava qualquer panteão,
Despencando em tuas mãos áridas,
Nos reencontramos
E nos despedimos,
Sem estação ou trem,
Sem bandeira ou voto,
Sem rio ou praia
E para sempre
Sobre um monte de nada
Num país de ninguém...

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