domingo, 25 de outubro de 2015

Chuva

Chove,
Faz mau tempo
E, no entanto,
Não há
Nuvem no céu.

Chove tanto,
Bocas, luas,
Árvores secas,
Nuas
Aos meus pés incréus.

Chove,
Torrente
Sobre minha cabeça
Sem guarda-chuva
Ou chapéu.

Chove,
Chuva forte
Ou miúda,
Chove
Guerrilhas e disputas.

Chove
De um céu mavorte
Chacinas e mortes.
Chove porque
Somos todos réus.

Chove
Contra o céu
E as gotas de chuva
Enchem-lhe o cálice
Com mares de fel.

Chove
De céus cruéis
O consumo
Que nos determina
A vida e o lucro dos cartéis.

Chove
De um céu sem céu,
Sem lua
Ou firmamento
Ao canto do menestrel.

Chove!
Chuva, queima
De pântanos
E sistemas,
Imenso fogaréu.

Chove
Dívidas, cifras
E despesas,
Chove monstros
Da chuva e da beleza.

Chove
Pouco salário,
Descontos,
O prejuízo acionário
Sobre o povaréu.

Chove
A solidão
Dos sobretudos,
O labéu de impostos
E tributos.

Chove
Contra nossos gritos
O mármore
E o granito
De vetustos mausoléus.

Chove!
Chuva – brasa,
Desespero
Que desaba
Dos arranha-céus.