domingo, 4 de junho de 2017

O caso Steve Bartman

É preciso perdoar
Steve Bartman,
Pois ele não fez
Nada de errado.

É preciso perdoá-lo,
Pois até Cristo
Perdoou crucificado,
E Bill Buckner
Mesmo depois
De ter errado
Pelos fãs do Red Sox.

É preciso enviar-lhe
Nossos mais sinceros
Pedidos de desculpas
Por termos sidos
Gente tão hipócrita
E estúpida.

É preciso que
Moisés Allou
Peça-lhe desculpas
Pois vivemos hoje
Todos com vergonha
E nus.

É preciso pedir perdão
A ele por tê-lo tornado
O homem mais desprezado,
Por tê-lo transformado
De todo o mundo
O homem mais solitário,

Por termos querido
Linchá-lo
Apenas porque
Esticou o seu braço
Como tantos outros
Ao seu lado.

Ó, pobre carneiro,
Sobre o qual
Lançamos
Todo o nosso ódio
E desespero.

É preciso que todos
Que o chamaram
De idiota
Por fazer
Aquilo que
Nos ensinaram fazer
Peçam-lhe desculpas
Pois a culpa
Não foi sua
Pela derrota.

É preciso que
Todos os jogadores
Do Miami Marlins
Peçam-lhe desculpas
Por terem vencido
Um jogo que deveriam
Ter perdido,

Tornando um gesto
Anônimo e óbvio
Em vergonha,
Tristeza,
Infâmia
E opróbrio.

É preciso perdoar
Steve Bartman
Recebê-lo
Com presentes
E afagos
No Wiringley Field
E deixar que volte
Para Chicago.

É preciso perdoá-lo,
Pois senão
Nossos corações
Sempre estarão
Agitados,
Corroídos
À procura
Daquele
Em quem jamais
Deveríamos
Ter cuspido
Ou xingado.

Quem não pegaria
Aquela bola?
Não foi isso
Que nos ensinaram
Na escola?

É preciso perdoar
Steve Bartmam,
Pois ele não é
Nenhum renegado,
Senão seríamos
Todos, como ele,
Culpados
Para sempre
Por nossos atos
Mais singelos.

É preciso perdoar
Steve Bartman
Porque, sobretudo,
Perdoá-lo
É perdoar-nos
Por sermos
Em tudo
Tão cruéis
E severos.

Mas talvez
Steve, triste
E só,
Queira apenas
Que o esqueçam
De uma vez...

E talvez
Não precise
De nenhum perdão
E já tenha esquecido
De qualquer
Acusação

E como
Esfaimado
Lobo ou leão
Tenha devorado
Todo xingamento
E culpa
Que algum dia
Lhe aprisionaram
O ser e o pensamento,

Pois talvez
Steve Bartman
Nem seja mais
Steve Bartman,

Talvez tenha esquecido
O dor de outrora
E chame-se agora
Carl Birthman.

Talvez seja outro,
Renascido,
Criança sem culpa
Que corre
E gosta
De apanhar
Com a sua luva
Todas as bolas.