Dissecar as próprias
pernas
É como eviscerar
A mente e o coração,
Adentrar quartos
E cavernas.
É transpor as
censuras
E nos ver ainda
Como éramos antes
Das acusações
E das recusas.
É ver poços e
delírios
Aonde vão beber
A mais profunda água
As feras
apascentadas
Pelo poeta maldito.
É ferir a própria
carne
E ver as entranhas
Que encerram o ser
Feito de vísceras
Repletas de aves e
infâncias.
Dissecar o próprio
corpo
É como trazer à
vida
Aquilo que jamais
Foi esquecido ou
morto -
O fratricida!
É afundar em
pântanos
E ressurgir perjuro,
Livre de demônios e
santos,
Feito apenas de
músculos,
Lutos e sangue.
É ser guiado
Ao coração do
mundo
Por estradas
Repletas de riscos
E encruzilhadas.
É ir por um caminho
Ladeado por rochas
E precipícios
Que não conhecem
Verdades ou
destinos.
Dissecar as próprias
vísceras
É ser conduzido
Até às veias
De quem fura os
olhos
E corta a própria
orelha.
É adentrar
A casa de madeira,
Deitar no banco de
pedra
E dormir no silêncio
Do nada e da treva.