quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

As ondas
















As ondas erráticas
Que rolam sem mar
Por entre alamedas,
Por entre esses carros,
Intrusas, incômodas,
Me trazem memórias
Bafio de mar,
De mar que secou,
De nau que afundou
Co’herói e piloto.
Qual doidas sem rumo
Se quebram, rebentam
No pé do edifício
De escarpa e marisco.
Na noite serena,
Do quarto eu as oiço
Marulho de outrora,
Repletas de vozes,
De guerras e amores,
De frotas inteiras
Que não transpuseram
Tormentas e cabos;
Que não encontraram
Bom termo e farol –
Imenso alarido
De gritos no escuro...
E assim quando saio
Com pasta na mão,
Ou chego abatido
Qual ave arribada
Os pés eu remolho,
Cansado e calado,
Num mar de cadáveres,
Atrás de enseada,
E enfim descansar
Um lenho de carne
Que sulca esquecido
As ondas de um mar
Em que naufragou
Remoto na história.
Por isso, o que quero
É enfim devolvê-las
Ao mar dos banhistas,
Ao mar dos surfistas
Que quebra na Atlântica
Sereno e tranqüilo.

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