quarta-feira, 17 de julho de 2013

Tempestade

Tromba de um deus
Paquidérmico e cinzento
A fustigar-me
Com chuvas e ventos;
                     
Língua plúmbea e marrom
A torcer-se em espiral
De fúria e som;

Precipício gutural
A vomitar-me
Pó, fogo e detritos;

Céu de granizo
Apedrejado –
A primavera
Traz as piores feras
De maio:

Grenha turbulenta
A assolar a terra
Com tormentas
E raios.

Oh, que anjo assoma
No céu de Oklahoma
E sopra deveras
Apocalíptica trombeta
Repleta de ira e bestas?

Nada mais resta
Do gado, do pasto
E da safra de milho.

Nada mais resta
Senão o desespero
Do clamor e do grito
Das mães à procura
De seus filhos,
O choro de medo
Dos órfãos
Sob os escombros
E a chuva.

Nada mais resta
Senão o terror
De mim mesmo,
Paisagem do avesso
Da qual tudo parece fugir...

Minha nudez e desterro
Onde antes só havia
O ouro a fulgir
À luz plena do dia,
A placidez dos alísios
A soprar nos campos de trigo.