domingo, 22 de novembro de 2009

Inês

Ó Inês, a morta,
Em mim tu vives
Febril e plena.

A sempre-viva,
A morta-viva
Tu és um entre.

Tu és um ventre
Materno e triste
Que quer parir-me.

Tu és lugar
Sem locus certo:
Entrelugar...

Pra sempre vives
Em quem se move
Febril, partido –

Inês de Castro,
Rainha póstuma,
Mesquinha nunca!

Inês é morta!
Mas não aqui
Em peito frágil.

Inês é viva!
Em quem sem fé,
Sem fé e amor

Só traz grilhões,
Um corpo asceta
Que se amesquinha,

Que espada alguma
Jamais sentiu
Na tenra carne,

Um corpo asséptico,
Que em vida ainda
É quase morto.

Inês Rainha,
Com quem caminha
Tão só, perdido,

Tu vais cantante
Tu vais cortante,
Mulher tão trágica

Em mim, o mudo
De corpo ocluso
Tão pouco lido;

Em mim, sem canto,
O quase morto
De tumba em tumba.

Entanto, tu
Embora morta
Na escrita vives.

Inês tão viva,
Malgrado morta,
Me faz teu Pedro!

Defunta viva,
Tu te coroas
Na minha vida

De vivo morto
Que quer ser pleno
Ainda vivo.

Um comentário:

Unknown disse...

Antes do olhar do crítico, leu o amigo. E para ele, ficou-me firme a análise positiva por critério irrefutável: arrepiou-me o braço. Eu também queria ser pleno ainda vivo e talvez Inês já seja morta. Pelo menos, até o Apocalipse. Em vida, espero.