sábado, 2 de abril de 2011

Assomo de raiva,
Cansado de tráfego,
Na lívida alcova,
Após o trabalho,
Tu queres prazer.
Amor tu desejas,
Amor, entretanto,
Tu queres sentir
Vibrando no corpo.
Que corpo, que amor
Se todo o fervor
Gastaste nas ruas,
Real sacrifício
De um corpo arruinado
No estuo do sangue?
Tesão vem de pílulas,
Amor das revistas.
Consome, criança,
Porção que te cabe.
Não sofras, não ames,
Encenas tão bem
Tesão e teus casos,
Amor infinito:
Teatro do ser.
Cartório haverá
Que te restitua
O eterno desejo
De amar para sempre –
Clangor corporal.
Por isso não chores
(De fato, não choras!)
A raiva de agora,
Teu pênis caído
É mero detalhe
De amor velho e gasto,
De um corpo abatido
Do dia e semana.
Agora, porém,
Chegou teu remanso:
O fim-de-semana
No rádio a canção
Renova teu ânimo
Seduz com promessas
De um sábado à noite
Repleto de amor.
A vida é a arte
Do encontro já diz
Ditado da moda.
Então, sai à luta,
Criança inconstante.
Nas ruas e bares
Conversas e danças,
Teu copo de uísque
Com outros tilinta,
Pois ébrio de amor
Almejas estar
Nas ilhas de amores,
Ainda que dure
O parco momento
Do orgasmo comprado.
E à noite sozinho,
Depois do motel,
Transido de frio,
Calado em perguntas,
Tu lanças um grito
E escutas somente
Silêncio e sigilo
Dos corpos alheios
Entre ecos profundos.

Um comentário:

Arnoldo Pimentel disse...

Muito bom seu poema, parabéns.