sábado, 29 de janeiro de 2011

Mitologias

Atropelados
Por tanto pressa
Foi nosso amor,
Foi nossa dor

Nas vastas vias
Congestionadas
De estreitas gentes
Em amargor

Nas mãos de Chronos
E devorando
Os próprios filhos,
Mitologias,

Enquanto guiam,
Entre Tifeus,
Titãs e cérberos
E vãs certezas,

Os próprios carros,
Os próprios medos
De sós ficarem
Sem posto ou carro,

Sem cargo ou farra,
Paralisadas
E engarrafadas
Nos vãos, semáforos

De uma avenida
Que só conduz
A inútil pressa
De quem perdeu

Há muito tempo
As mãos e o véu,
Úbere céu
Que nos atavam.

E agora assim
Sem nada mais
Que nos vincule
Sem canto ou messe

Para cantar,
Para ceifar
E que traduzam
Feroz vertigem,

Qualquer verdade,
Perdida herdade
Que nos acolha,
E nos recolha

De frio chão,
Procuro em vão
Por nós, velames,
Por quilha e amarras,

Velhas canções,
Arras, camões,
Canhões, guitarras
Num peito arcano

Que mesmo só
Sem vela e insano
Na estrada imensa
Insiste e canta.

2 comentários:

Arnoldo Pimentel disse...

Muito bom seu poema, gostei muito da parte que fala sobre semáforo da avenida que conduz a inútil pressa de quem perdeu, porque estamos aqui para vencer, mas perdemos muito também.

Priscila Zanutti disse...

Gostei de seus poemas. Passei por aqui depois de seu comentário no texto sobre Ferreira Gullar no portal literal...seguindo