segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Manhattan Tower














Manhattan Tower, 89,
Tu te ergues
Poderoso e colossal
Da Avenida Rio Branco
Ante súditos de asfalto e carne,
De cimento e aço.
Templo de gravatas e sapatos,
De pastas e investimentos,
É em ti que acionistas
E investidores divertem-se
Disputando cifras,
Em meio às oscilações do mercado,
Vaticinando lucros,
Diante das taxas de juros
Do FED e dos BCs,
Depreciando mercados
E economias,
Ante os humores cambiais,
A despeito de fé, crença
Ou de qualquer drama familiar,
Enquanto compramos
O sagrado pão de cada dia.
Tu, que não és um,
Que não és único
Mas inumerável
Mundo afora,
Geração fustigada pelo vento,
Fragas que se atiram contra os céus,
Clarão envidraçado
De aço e de alumínio
A refletir,
Em mil centelhas,
A luz ligeira
De Xangai, Taipei,
Chicago, Kuala Lumpur,
Hong Kong e Nova Iorque,
Burj Khalifa, Willis Tower,
Taipei 101, Petronas Towers,
Central Plaza,
Empire State Building,
Titã coruscante,
Contemplas vítreo e concreto
Teu irmão
De ponteiros e horas indecifráveis
Em direção ao qual, da Avenida,
Todos os olhos se lançam
Aflitos ou indiferentes.
Irmão que, por sua vez,
Encara firme e altivo
O pai cansado de exploração
A contemplar mudo
Os detritos da baía,
A fração inumana das gentes
Pelas ruas e becos...
Ó Irmãos ingentes,
Filhos de um gigante –
Ó Família excelsa
De concreto e laje,
Há carne imunda e fétida
Que se espreme, em vão,
Sob tuas marquises
Contra o frio e a chuva
De teus prognósticos,
Enquanto de vós,
Bem protegidas,
Retinas assustadas
Buscam saudosas
As Torres de outrora,
Consolam-se
Entre álcool e aspirinas,
Em meio a céus
Rasgados de gritos
E WTCs,
De precipícios
E cimitarras chamejantes,
Enquanto buzinas e sirenes
Vaticinam pavores,
Sinistros augúrios
Avenida afora;
Consolam-se,
Entre destroços
De um firmamento estilhaçado,
Com aqueles antigos versos
Que diziam:
“Porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan...”
Enquanto o tráfego e a baía
Refletem ardis
E o mudo perigo que espreita.

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