quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Fuga
















Ah, eu queria apenas
Uma exígua porção
Da rara antimatéria
Capaz de devastar
Todo o bairro onde moro,
E a excelsa espaçonave
Lançá-la nos confins
Do espaço sideral.

Partículas tão raras
Presentes nos primórdios
Da nossa formação,
Imagem especular
Do que não nos tornamos,
Matéria negativa
Que enfim se consumiu
Em luz e em energia.

Ah, eu queria apenas
Atingir os limites
Deste imenso universo
Finito, mas sem margens,
Contemplar enlevado
A máquina do mundo,
A primordialidade
De seu funcionamento.

Ah, eu queria apenas
Ver todas as estrelas
Que nascem lá nas Nuvens
De Magalhães, pilares
De outros mundos e sóis.
Contemplar as moléculas
Chocando-se entre si
Em espirais sem fim.

Canópus e Capela,
Vega, Rigel e Prócion,
Poláris e Altair,
Aldebaran e Pólux,
Betelgeuse, Castor,
Sírius e Belatrix,
Dossel de astros que apontam
De Cão a Ursa Menor.

Ver todas as estrelas
Verrumando nos céus
Noturnos das cidades
Que também se iluminam
De luzes e néon
Nas ruas e avenidas
Em que os homens se perdem
Feito estrelas cadentes.

A mim basta só isso.
Da deusa não preciso,
Nem de revelação
Na estrada pedregosa
Daquele ancião de Minas.
A mim basta só isso:
A energia que possa
Lançar-me neste espaço.

Porque a realidade
Não é um teorema,
Nem clara se desvenda
Em rápido relance,
Nem a reinos nos chama,
Porque já estamos nela
Sem sequer se importar
Se a queremos ou não.

Oh, este mundo! Sim
É possível medi-lo,
Entender seus princípios,
A origem e o destino
Do que nos concebeu:
A primeva matéria,
Ínfima e subatômica –
Os quarks e antiquarks,

Matéria e antimatéria
No espaço colidindo,
Gerando mais partículas
No caos das incertezas
Que fez as quatro forças
Então se separarem
E enfim impulsionarem
A máquina do mundo.

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