quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Soneto do homem malogrado

 

Sinto que o essencial em mim faltou,

Que tudo se esvanece sem demora,

Que rompo inutilmente toda a aurora

Desta vida em que nada me bastou.

 

Sinto que no fim tudo se frustrou,

Que alheio me tornei quem ignora,

Aceito ou reprovado, dentro ou fora,

O fardo que meu ser sempre curvou.

 

Me fica a sensação de ter vivido

O que me foi imposto ou obrigado

E jamais meu prazer ter consentido,

 

Pois logo que nasci vivi errado

O que nunca me fez qualquer sentido

E faz com que me sinta malogrado.

terça-feira, 30 de julho de 2024

Nuvens

 

As nuvens vomitam tragédias,
Expelem desespero e trevas.
Não é sombra, chuva ou cantiga,
Não são anjos, suave brisa,
A neve branca e natalina.
As nuvens vomitam tragédias
De um céu sem nenhuma promessa.
E as mais fugazes e branquinhas,
De que gostam as criancinhas,
Somem, fogem, em bandos, junto
Com fadas, anjos e castelos
Do firmamento cor de chumbo
A desabar sobre este mundo
Com aguaceiros e flagelos.

sábado, 29 de junho de 2024

Soneto do homem em chamas

 

Todo um Zeppelin arde no meu peito.

Todo em chamas me queima no meu leito.

É fogo consumindo-me indecente,

Insânia que só minha carne sente.


Ânsia – desejo nunca satisfeito,

Coisa que me lançar de um parapeito

Me faz querer às camas loucamente

Em busca de prazer que me alimente


A boca que não cessa de querer

Beijos, bocas, ser que ama por inteiro

E bêbado só pensa em se perder,


Ardendo como Roma num incêndio

Ou no calor do Rio de Janeiro

Quem do excessivo amor quer o dispêndio.