Sou poeta,nascido aos 24/02/1976 em Porto Alegre. Meus poetas tutores são Drummond, Baudelaire e Fernando Pessoa. São eles que orientam meu pensamento e labor poético. Este blog é feito para quem gosta de poesia Publicarei nesta página, portanto, alguns poemas de minha autoria e também de outros grandes poetas, além de comentários sobre meus poemas e de outros escritores.
quinta-feira, 28 de dezembro de 2023
Soneto da lamentação
domingo, 3 de dezembro de 2023
Esta cidade
segunda-feira, 6 de novembro de 2023
Boca
terça-feira, 3 de outubro de 2023
Andar por aí
quinta-feira, 14 de setembro de 2023
No fim
terça-feira, 25 de julho de 2023
Sonho
De monstros
Medonhos,
De tigres que me devoram
O próprio sonho.
Sonho
Que me cortam
O que tenho
De mais doce,
O fruto,
O sonho,
O pomo,
O que me faz sentir
Ereto, eterno
E todo.
Sonho
Que já não há
Mais festas e momos
E que em nossos
Lábios sôfregos
Resta só o choro,
Uma lápide
Sobre os beijos
Que damos
Sem nenhum recato
No meio da rua
Do nosso anonimato.
Sonho
Que meu sonho
Seca nas rugas
De um velho tardonho,
Enregela-se nas verrugas
De um casal tristonho.
Sonho
E não há sonho pior
Do que sonhar
Que o próprio sonho
Naufraga em alto-mar,
E acordar sem saber
Se estive a sonhar
Ou se meu sonho
Foi só um sonho
A cismar ao luar.
quarta-feira, 19 de julho de 2023
Para amar
Para amar, uma mulher
Não deve ser moralista.
Não é sabido
De ninguém que,
Sendo severo juiz
De si e do mundo,
Tenha amado
E sido feliz.
Para amar, uma mulher
Não precisa do pundonor,
Pois nunca o orgulho,
A honra e o valor
Evitaram que alguém
Se entregasse ao amor.
Para amar, uma mulher
Não precisa ser justa,
Pois o amor não diz respeito
À razão, ao direito e à justiça,
Pois sabe o quanto é vão
Ser justo nas sendas da paixão.
Para amar, uma mulher
Não precisa estar certa,
Não precisa agradar, ser reta,
Pois o amor não quer qualidades,
Não se preocupa com a verdade,
Só com o querer, o corpo e o cheiro
Que lhe excitam as vontades.
Para amar, ah, mulher,
Não é necessário virtudes,
Caráter, qualidades morais,
Predicados intelectuais
Que ajudam a amar,
Mas não nos roubam o ar
Como só conseguem os sensuais
E ninguém mais.
Para amar, mulher,
É preciso apenas um rosto,
Um sorriso, um olhar,
Um jeito de ser
E de se expressar
Que só consegue ver
Quem está apaixonado.
Pois só a fantasia e a ilusão
Podem fazer, mulher,
Amar um coração.
Pois o amor é um raio
Que ilumina
O espelho d’água
De dois olhos
Onde vemos refletida
Do coração apaixonado
A própria alma.
segunda-feira, 10 de julho de 2023
Soneto do Viúvo
"a vida não vale à pena se não há ninguém para se amar profundamente"
CHET BAKER
Pulsa em meu peito um coração perjuro
Sem encontrar nenhuma paz ou cura.
Habitam meu seio infeliz, escuro,
Pesares, perda e profunda amargura.
Mas, mesmo sendo um infiel impuro,
Desafiando meu destino e selo,
À mulher mais pura me uni seguro
Por seu intenso amor e manso zelo.
Hoje não zombo de quem se perdeu,
Pois também não gozo de um himeneu
E me tornei este ser ressentido.
Vivo sozinho, descuidado e triste
E apenas sei que o que em minha alma existe
É a dor imensa de tê-la perdido.
segunda-feira, 3 de julho de 2023
Desde menino
Desde menino sonhava,
Queria uma namorada bonita,
Uma família feliz,
Casar um dia na igreja.
Sonhava porque havia sempre
Em mim
Um círio a queimar,
Um devoto a orar
E uma canção de amor
Sob a luz do luar.
Sonhei até ver
Os amantes repousando
Num leito de pedra,
Até ver o desespero
Dos que naufragam em alto-mar,
Hirtos esqueletos
Jazendo em meio a algas e trevas.
Hoje, não sonho mais
Como menino;
Sei que engano e minto
Como se quisesse conter
Meu choro após o grito,
O lume do círio
Agora extinto,
Um mar que me afoga
Bravio.
terça-feira, 27 de junho de 2023
Soneto do homem só II
Chegou teu companheiro de viagem
Que sai da casa ainda adormecida
Sem nada de importante na bagagem
E volta cochilando p'la avenida.
Chegou teu companheiro de pilhagem
Que sai de casa feito uma criança
E volta carregando na roupagem
Destroços luminosos da esperança.
Um pouco de teu fôlego e lugar,
Do que sequer consigo imaginar,
Resquícios que me sobram de nós dois:
Calçadas, alamedas e desvios
Que em vão nós percorremos erradios
Sem nada o que deixarmos pra depois.
domingo, 11 de junho de 2023
Lunático
Desnuda e gélida,
O que me contas
Nesta noite tétrica?
Que um dia
Estes corpos
Mortos e frios
Foram vidas elétricas?
Que estas bocas
Silentes da afasia
Um dia foram
Coro e algaravia?
Ó louca lua
Desnuda e pétrea,
Um dia foste
Lauta e profética!
Inspiraste,
Insana e frenética,
O coração dos ascetas,
Dos abades e dos poetas
E foste o álibi
De todos os criminosos,
Daqueles que buscavam
Em cismas e milagres
O perdão e a eternidade.
Tu me aparecias
Em forma de mulher
Com as vestes rasgadas,
Um seio e o púbis à mostra
Numa solitária estrada
Em que, iníqua, tu brilhavas.
E por mim acompanhada
Nada me dizias
Ou me indagavas,
Apenas o meu leito
Tu corrompias
Na madrugada.
Eu vinha do mar.
Era onde eu te via,
Mas não onde te tinha,
Pois era num lupanar
Em noites frias
Que te possuía
Dos céus despregada.
Ó santa pura e profana,
É por ti que o herege
Peca e exclama!
Tu que dos céus
Preparaste as insídias,
Rasgaste as insígnias
E todos os véus!
E nua, sempre nua
Como uma hetaíra
No firmamento
Da Grécia antiga
Ou noctívaga
E sonâmbula
Nos sofrimento
Dos que amam
Na mais escura treva
Habitada por corvos,
Templos e altares
Em ruínas,
Vagas, deambulas
Por todos os corações
Em festa ou em luto
De quem caminha
Por átrios, câmaras e colunas
Ou dorme debaixo dos viadutos.
Oh, tu que foste
A perversão e o vício
Dos corações apaixonados,
Errantes e perdidos
E te derramaste
Nas noites e vales
De brilhantes catadupas
E telúricos tropismos.
Oh, tu que foste
A breve loucura
No torturado espírito
De todos os arrependidos,
Ó louca, nua,
Impassível e gélida,
Tu me torturas,
Tu me torturas
Há incontáveis eras!
domingo, 4 de junho de 2023
Corvo
Escrever às vezes
É um estorvo.
O quanto penou Poe
Até chegar ao O Corvo?
É vasto o céu
Assim posto,
É vasto o céu
Assim póstumo!
O quanto penou Poe?
E ele está morto!
Mas o corvo,
Com suas asas
Sobre a estátua
De Palas,
Mas o corvo
Sempre à nossa espreita,
Atrás, na frente,
À esquerda ou à direita;
Mas o corvo,
Sempre à nossa porta,
É um estorvo,
Velho, sempre novo,
Ave, Demônio
A estraçalhar-nos os sonhos,
A pousar no busto de Palas
E no meu ombro,
Negro, negro, negro
A curvar-se no meu leito.
Grasna que a morte
É para todos
E que a vida e a sorte
São nosso maior engodo,
Grasna aos quatro cantos
Como um louco.
Oh, o quanto penamos
Lendo O Corvo?
Irmão, Poe,
Ele também se foi,
Irmão, Lee,
Nunca mais o vi -
Mortos, mortos, mortos
Aos pés dos corvos!
Hoje é uma asa negra,
Deus sem trono,
A velar-me o sono,
Meu corpo que só deseja.
Nunca mais! Nunca mais!
É o agouro que nos putrefaz.
Matou-me o verso,
Negreja-o agora
O último fóton
Do universo.
Sinto-me fraco,
Amargo, travo,
Sinto-me sem espaço,
Um velho calhamaço,
Sinto uma vontade
De me matar,
De nunca mais amar,
De reescrever-me almaço,
De despojar-me
Do corpo, da carne,
De cortar-me o braço
E dormir, velando-me,
Para curar-me de tanto
Medo e cansaço.
Oh, o quanto nos alertou
O grito do Grou
Antes que nos viesse o Corvo
Aos umbrais após o voo?!
sexta-feira, 26 de maio de 2023
Tempo
No mesmo tempo
Todo o fluxo já passou
E ainda passa e passará
Neste exato momento.
Toda a hora sempre chega
Porque já passou.
Por isso, somos agoirentos.
O tempo é um rio parado
Embora haja tanta gente
Afogada e sem alento.
E, mesmo estático,
Vivemos ardentes
Em meio a tantos tormentos,
Porque, mesmo parado,
Vivemos na aparência
De discursos e argumentos,
Na ilusão de calendários,
Dias, anos e minutos
Em meio a sonhos e dezembros,
Porque, mesmo cumpridos
Seu destino e fado,
De nada sabemos.
E o que há somente
É a luz que dilata
Distâncias e comprimentos,
Tudo o que vemos
É o para além dos nossos olhos
Do chão ao firmamento.
Assim não o sentimos
Como insensível cristal,
Mas como nosso tegumento,
Por isso não o sentimos
Como massa inerte de gelo,
Mas torrente ardente de tempo,
Ou, mesmo parado,
Como solo livre do sólido,
Pântano lutulento
Onde afundamos,
Onde morremos e nascemos
Na ilusão dos fragmentos,
Porque o tempo é um todo,
Rio sem fluxo ou corrente,
Congelado movimento,
Aquilo que muitos confundem
Com a existência
De algum ser eterno e supremo.