quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Vagina dentada


Vagina dentada,
Escancarada
A qualquer fluxo,
Caudal anônimo
De caras e de pênis,
Exibição e charme,
Feito artigo de vitrines,
Mas no fim: solidão,
Camada de carne,
De lábio e asfalto,
Elevando tapume alto
E muros feitos
De cimento e de murros.

A que horas deitar?
A que horas amar?
Mas sempre trabalhar,
Devorados, seta ferina
Na carne encilhada,
Inflamada ferida –
Grito, dorida anti-voz,
Abafada, contra o rito,
Pelo mito,
Pênis mordido
Por dentada vagina.

Boca sifilítica
A excretar purulenta
Pruridos, gonorréias,
Pequenas mortes
Paralíticas,
Virulentas panacéias
Contra o membro
Rígido, ereto
Em busca de afeto
Num paraíso perdido -
Teatro obsceno
De deleite e venenos.

Amor ou tesão?
Apenas fluxo!
Chafariz de repuxos
De pressa e de ódio.
Pergunta-se: - “O que fiz?”
Mas estica sempre a cerviz
Sob a camada dura
De raiva e de murros –
Ferida aberta,
Sem atadura –
Enquanto goza e mente
Semente amputada
Na vagina dentada.

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