quinta-feira, 14 de setembro de 2023

No fim

 


No fim, o que nos resta?
A fidelidade do cão
A abanar o rabo
Entre bancos e cadeiras
Mudos após a festa?
Amplo espaço vazio
Sem bancos ou cadeiras,
Só com o cão,
Gárgula a contemplar
A última laje do poeta?
No fim, o que nos resta
Senão as frestas
Por onde víamos
O incomensurável desfile
De nossos ardores e metas,
De nossos beijos e desejos
Porque hoje
Os já não vemos mais,
Os já não temos mais?
Cobriu-as por completo a hera,
Devorou-os o colmilho do tempo,
Essa fera!
Agora, tudo calado,
Sem riso, sem pranto,
Jardim morto sem giestas,
Fruto maduro no chão
Sem ninguém para comê-lo,
Folhas mortas, dispersas,
Manto enlutado da terra.
No fim, o que nos resta?
Pouca coisa, alguém
Que, às pressas,
Nos faz uma prece!
No fim, o que nos resta?
Pouca coisa
Sem qualquer senso,
Silêncio - canto sem gesta!
O fruto, as folhas,
O cão, o chão -
Suma, súmula
De tudo:
Urna de treva.