Atropelados
Por tanto pressa
Foi nosso amor,
Foi nossa dor
Nas vastas vias
Congestionadas
De estreitas gentes
Em amargor
Nas mãos de Chronos
E devorando
Os próprios filhos,
Mitologias,
Enquanto guiam,
Entre Tifeus,
Titãs e cérberos
E vãs certezas,
Os próprios carros,
Os próprios medos
De sós ficarem
Sem posto ou carro,
Sem cargo ou farra,
Paralisadas
E engarrafadas
Nos vãos, semáforos
De uma avenida
Que só conduz
A inútil pressa
De quem perdeu
Há muito tempo
As mãos e o véu,
Úbere céu
Que nos atavam.
E agora assim
Sem nada mais
Que nos vincule
Sem canto ou messe
Para cantar,
Para ceifar
E que traduzam
Feroz vertigem,
Qualquer verdade,
Perdida herdade
Que nos acolha,
E nos recolha
De frio chão,
Procuro em vão
Por nós, velames,
Por quilha e amarras,
Velhas canções,
Arras, camões,
Canhões, guitarras
Num peito arcano
Que mesmo só
Sem vela e insano
Na estrada imensa
Insiste e canta.
2 comentários:
Muito bom seu poema, gostei muito da parte que fala sobre semáforo da avenida que conduz a inútil pressa de quem perdeu, porque estamos aqui para vencer, mas perdemos muito também.
Gostei de seus poemas. Passei por aqui depois de seu comentário no texto sobre Ferreira Gullar no portal literal...seguindo
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