domingo, 18 de julho de 2010

Cata-lata
















Cata-lata,
Tanta praga
Que se abate
Sobre ti:

Cata-lata,
Vira lata,
Deus de lata,
Tanta lata
Que enferruja
E te fere
Bem a mão.

Cata-lata
Que não fere
Não maltrata
Quem te fere,
Quem te mata.
Só suplica
E suporta
Catar lata,
Catadura
Do esmoler
Que te dá
Sujo cobre,
Suja gente
Que se pensa
Ser de prata,
Pura nata,
Quando é rata
Nos altares
Genuflexas:
Dura cata,
Dura lata,
Lá na Lapa,
Onde dormes
Contemplando
Catadupa
De astros mortos.

Cata-lata,
Esse Deus,
Essa gente
Que é de lata,
Tu não matas,
Mas se tal
Não fizeres
É porque
Já é lata
E não carne
Que te faz
Ser humano.

Salva, então,
O que em ti
Inda é carne,
Não de lata –
Consciência
Do que é lata,
Catar lata
E te mata,
Condição
Que enfim tu
Não mais queres
Aceitar,
A-catar! –
Catar lata...

2 comentários:

João Lima disse...

belo trissílabo!

Mariela Mei disse...

Quando vi no Portal Literal que suas influências são Pessoa, Baudelaire e Drummond (minhas também, entre outros), não contive a curiosidade e resolvi estender minha visita ao seu blog. Posso dizer que não me arrependi! Seu trabalho é construido na razão e flambado em emoção. Adorei! Parabéns!