Neste jardim em que há muito
Não cultivo, passo ou cuido,
Quero plantar, pôr botas
E mexer na terra,
Lançar fora
Seixos e abrolhos.
Nele quero labutar,
Reconstruir minha sebe
Ver minha gota de bile
Irrigando a terra.
Quero regá-lo pela manhã
E segá-lo com afã.
Quero levantar bem cedo,
Preparar meu espírito,
Pegar na pá e no ancinho
Cuidar do solo maninho
E não deixar que o sono
Prolongue o verão e o estio
Para despertar minha esposa
E dar bom exemplo ao meu filho.
Não quero ver de novo
O trabalho perdido,
O mato crescendo
E o espírito alquebrado
Sem saber recomeçar.
Assim quando a primavera chegar
E eu já estiver morto,
Depositem no meu túmulo
Tanta rosa e gente vingadas
Que um dia disseram fanadas.