quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Tecelã

Tecelã de traço e forma,
És contrária ao arbitrário;
À desordem impões modo,
Aparência que te agrada.

Frente a todo esse tumulto,
Traças formas e volumes.
O tecido que se urdiu
Contra o intento da razão

Tu desfias em quimeras,
Reprojetas proporções,
Redesenhas arrabaldes
Sobre a folha de papel.

Régua, lápis e compasso
Traçam ordem à cidade,
Entretecem teus desenhos
Inimigos dos garranchos.

Tal quimera entanto notas
Deste intuito tão complexo:
Há pessoas nas vielas,
Multidões incontroláveis

Te ferindo, pululando,
Vomitando escrita insana
De tortuosos domicílios
Formidando irrefreáveis,

Construídos na premência
Implacável de viver,
De morar, sobreviver
Em cidade que se fecha,

Põe num cárcere a beleza,
Em um cofre sem segredo
Para quem ficou de fora
Esquecido, pelos becos.

Entretanto, tu não cessas
Teus projetos sobre a folha:
Tão concreta poesia
Que teus versos são as linhas

De indivíduo geométrico –
Teu recôndito profundo,
Claro mundo de ideal:
Monumento solitário

A ti mesma dedicado:
Pedestal em que te pões
Face um mundo tão faltoso
De arte e técnica e afeto.

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