Trepar
não é amar
É
um jorro
Quente
na minha cara.
A
tara
Que
me acusa e desvenda
Quando
mergulho
Em
tantas fendas.
O
grito e o gozo
Que
sorvo
E
escuto
Entre
chicotes e algemas.
Trepar
não é amar
Não
é sequer gostar,
É
muito mais,
É
só querer,
É
uma busca incessante
Pelo
ser
No
gozo e no prazer.
Trepar
não é amar
É
ter,
Sobretudo
ter,
Para
logo depois
Perder
É
ver o corpo
Como
escada
Para
o tudo
Ou
para o nada
E
esquecer.
Trepar
não é amar
É
gozar,
Sobretudo
gozar,
Pois
pode-se amar
Dias,
meses, anos a fio
Sem
jamais gozar,
Sem
jamais entrar no cio,
Porque
amar é sofrer
E
trepar é querer,
É
morder
O
que tantaliza
Nosso
ser.
Trepar
não é amar
É
querer, nu,
Mergulhar
Num
cálido mar.
Amar
É
querer
Também,
Querer
O
que não se pode ter,
O
que está além
Das
nossas forças
Ou
ser
Porque
amar,
Em
si,
É
ansiar-se só,
Sem
ninguém.
Amar
é querer-se
Além
do corpo,
É
no fundo desejar
Estar
morto.
Trepar
não é amar,
É
não querer
Estar
morto,
Mas
viver
Sempre
no centro
De
todo o corpo.
É
tão sublime
Quanto
matar
Ou
trepar
Num
altar
É
cometer um crime!
Trepar
não é amar,
É
ser perverso
E se
tornar objeto
De
insanos desejos
Secretos.
É
encenar papel baixo,
Despojar-se
De
toda a vergonha e recato
Só
para ter acesso
À
silhueta atrás do véu
E à
caixa que guarda
Preciosa
jóia e anel.
Trepar
não é amar,
É
vociferar-se
Na
janela
É
uivar ou ladrar
Feito
cadela.
Trepar
é ser denumano e cruel,
Não
é ser homem e mulher
Mas
algo que resfolega ou galopa
Como
um corcel.
Trepar
é cravar e contorcer-se,
É
rasgar e morder,
É
ir até onde toda a carne
Sempre
vai doer.
Trepar
não é amar,
É
ter na boca
Um
beijo tantalesco,
É
gritar venéreo
Contra
o amor
Tão
sério,
Que
jamais vê
O
que também somos:
Burlescos.
Trepar
não é amar,
E se
amamos
Enquanto
trepamos
E
se,
Por
um breve instante,
Por
um triz,
Consegue
alguém
Ser
feliz,
Saiba:
Isso,
Seja
lá o que for,
É
muito mais
Do
que amor.